Uma vez me disseram que a História e a Literatura possuíam uma ligação tão forte quanto a de dois amantes. Naquele momento achei engraçado e não dei muito crédito àquelas palavras. Porém, nos últimos tempos vim realizando alguns estudos em relação a Historia da Colonização de Sergipe e sua relação com a Literatura, e percebi que aquela comparação um tanto romântica não era exagero
A História inspira o escritor, que tem a liberdade de recriar diversos fatos utilizando a sua imaginação. A Literatura, tal como o cinema, aproxima a História do grande público, pois a transforma em algo simples e próximo da realidade.
Voltando-nos agora para o contexto sergipano, sabemos que essas duas áreas não recebem o seu devido valor, mas aos poucos, com muita luta e “sangue derramado” vem ganhando espaço, muito pequeno ainda comparado as suas grandezas .
Em relação a Colonização de Sergipe, a desinformação ainda reina nas antigas terras de Del’rey. Grande parte da população não tem conhecimento de quantas almas fora massacradas, quantas culturas foram destruídas, graças a ganância dos colonos. Muitos nem imaginam a diversidade de tribos indígenas que haviam neste local. Pensam que nunca existiram índios nos tempos de 1500 ou se existiram, eram tupinambás. Kiriris, Boimés, Kaxangós, e entre tantos outros foram varridos do território em que hoje habitamos.
Por outro lado, as obras literárias estão ai, tentando fazer o seu papel de “facilitar o acesso” aos acontecimentos históricos. Dois exemplos muito fortes que relacionam a Literatura a Historia da Colonização de Sergipe são os livros “Ibiradiô” da escritora Gizelda Morais e “A fúria da Raça” da jornalista Ilma Fontes.
O ” Ibiradiô” utiliza dois focos narrativos, um no passado, isto é, entre os anos de 1575 à 1590, e outro no presente, que na realidade é o inicio da década de1990(quando o livro foi escrito), para mostrar ao mesmo tempo o processo da chamada “Conquista de Sergipe”, narrada em sua maior parte pelo personagem Diogo de Castro, simpatizante dos índios, que em todo o tempo se questiona se a maneira como os “colonizadores” tratam os nativos é correta; e por outro lado estão três cineastas enfrentam dificuldades para escrever um roteiro sobre a Colonização de Sergipe.
Já a obra “A Furia da Raça” foi produzida, em 1987 para ser um roteiro. Devido ao desinteresse dos governos vigentes, este projeto nunca saiu do papel, sendo publicado como livro dez anos depois, em 1997. Não perdeu suas características originais. É dividido em cenas(253 no total), que possuem não só diálogos dos personagens, mas as posições das câmeras, descrições de cenário e figurino, e sugestões de trilhas sonoras. Também se passa entre os anos de 1575 à 1590 e relata desde a chagada dos jesuítas as terras de Del’rey e a catequese dos nativos, até a sangrenta guerra justa, aonde Cristovão de Barros e seu pulso de ferro eliminaram qualquer vestígio de resistência indígena. Isto não quer dizer que essa história é somente apresentada pelo ponto de vista do colonizador. As organizações indígenas são um ponto forte do roteiro, aonde chefes como Aperipê, Sirubi, Serigy e outros aparecem como lideres de coragem.
Agora só nos resta esperar que os responsáveis pela educação de nosso estado dêem mais atenção aos frutos de nossa terra, porque história e talento nós temos, o que falta e descobrir que o nosso estado não se resume só a cajus e forrós.