quinta-feira, 31 de maio de 2012

Relatório de Viagem: Laranjeiras/SE

No dia 22 de abril do ano de 2012, realizei, junto com mais dois colegas de turma, uma viagem a cidade de Laranjeiras/SE, localizada a 19 quilômetros da capital Aracaju. Possuindo cerca de 26 mil habitantes, a cidade é um dos maiores pólos culturais do estado, além de concentrar um imenso valor histórico, exposto especialmente através de arquitetura, que em grande parte ainda conserva o estilo neoclássico, predominante ainda no período colonial.  


Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus

Chegamos na cidade as 11h. O primeiro fato que nos chamou a atenção foi a movimentação no Terreiro Nagô Filhos de Ôba, tombado pelo Governo do Estado. Possuindo uma população predominantemente negra, Laranjeira é um grande centro da cultura Afro no Estado.


Nosso "Mini Guia" Carlinhos
            Após uma pequena caminhada pela cidade, realizamos uma visita a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, primeira do Brasil dedicada culto do Sagrado Coração. Lá conhecemos Carlinhos, um garoto de 10 anos que se ofereceu como guia no nosso passeio pela cidade.

            Em seguida, nos dirigimos ao Museu Afro Brasileiro da Cidade, onde a estudante do Curso de Museologia Stefani nos apresentou as várias peças existentes neste local, que retratam desde objetos relacionados ao período da escravidão, até os diversos cultos afros existentes, do Candoblé ao Nagô.

            Após a visita ao Museu, realizamos um passeio pela cidade, passando por vários pontos de destaque, como a Igreja da Nossa Senhora da Conceição dos Pardos, as ruínas da Loja Maçônica, a Casa de Cultura João Ribeiro, a Igreja Presbiteriana, etc.

Visita ao Museu Afro Brasileiro
            
Depois da pausa para o almoço, realizamos visitas a Igreja do Senhor do Bonfim e por fim, ao Museu de Arte Sacra da cidade.

            Retornamos a cidade de Aracaju por volta das 17h, com o desejo de retornar a cidade o mais breve possível, e conhecer mais a fundo a sua História. 


Resenha do Livro “Os Corumbas”, de Amando Fontes




Apesar de pouco difundida, a literatura sergipana se mostra, persistentemente, como uma admirável fonte de produções ricas em seu conteúdo, e que podem facilmente ser utilizadas como um retrato de uma época. “Os Corumbas”, de Amando Fontes, se encaixa precisamente neste patamar, relatando de forma crua e consistente a realidade de toda uma geração sofrida que, para não se sujeitar de uma vez a miséria, se submetia a desumana realidade das fábricas de algodão recém construídas na Capital sergipana nas primeiras décadas do século XX.

O autor da obra, Amando Fontes, nasceu na cidade de Santos, São Paulo, em 15 de maio de 1899. Ainda bebê ficou órfão de pai, o que proporcionou o retorno da sua família a cidade de Aracaju/SE, de onde era originária. Ao decorrer da vida foi jornalista, advogado e deputado estadual. Residiu não somente na capital sergipana, tendo passagens nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Curitiba. Como romancista, escreveu apenas duas obras. Além de “Os Corumbas”, lançado em 1933, que recebeu vários elogios dos críticos da época, Fontes também possui publicado o livro “Rua Siriri”, menos conhecido em relação ao primeiro.

A história narrada em “Os Corumbas”, tem início com a união dos ainda jovens Geraldo Corumba e Josefa, que se conhecem em meio a Festa de São José, no interior do estado de Sergipe, de onde são oriundos. Apaixonam-se e por fim se casam. Os anos se passam, nascem os primeiros filhos e as primeiras dificuldades, forçando a família já constituída a realizar sua primeira fuga ante a miséria, se instalando no Engenho Ribeira, no município de Capela.

Longos anos se passam, mais filhos nascem, possuindo a família Corumba no total cinco filhos, sendo quatro moças e um rapaz. Com a baixa no preço do açúcar, as dificuldades voltam a assolar a casa de Geraldo e Sá Josefa. É nesse momento que surge a ideia da migração da família rumo a cidade de Aracaju, que prometia, com suas fábricas de tecido, uma vida melhor para todos. Mas, ao contrario do que foi planejada, a partida dos Corumbas para a capital sergipana trouxe somente sofrimento, separação, morte, vergonha e desilusão. 
 
         Estabelecidas em Sergipe entre o final do século XIX e o início do século XX, a Companhia Sergipana de Fiação e a Empresa Têxtil do Norte, conhecidas popularmente como Sergipana e Têxtil, fizeram resplandecer na cidade de Aracaju uma numerosa classe operária, que residia fora do “Quadrado de Pirro” da capital, nos bairros de S. Antônio, Carro Quebrado (hoje bairro São José), Fundição, Aribé, dentre outros. Nas descrições realizadas na obra de Amando Fontes, a maioria dos trabalhadores das fábricas era constituída de mulheres, que vinham de toda a parte do território sergipano: “Eram praieiros de São Cristóvão e Itaporanga; camponeses do Vaza- Barris, da Cotinguiba; sertanejos de Itabaiana e das Catingas (...)”(p.19) que “Iam em busca do pão negro. Um negro pão, que, a troco do trabalho, lhes forneciam as fábricas de Tecido” (p.18). 
 
          As longas jornadas de trabalho, o escasso salário, o abuso dos superiores, presentes no dia a dia da família Corumba, são um retrato do operariado da capital sergipana nas primeiras décadas do sec. XX. Por outro lado, poucos ousavam expor a sua insatisfação, com medo de perderem seus empregos, e com isso, a única fonte de renda. Fontes faz questão de acrescentar em seu livro a primeira greve estabelecida em Aracaju, que no final acarreta a deportação de vários revoltosos. Entre eles, estava um dos filhos de Gerado Corumba, Pedro, para a tristeza e amargura de toda a família.

         Um dos aspectos que chama mais a atenção em “Os Corumbas”, é exatamente a dispersão de todos os filhos da família. Além de Pedro, que foi arrancado do seio familiar devido aos seus ideais revolucionários, o leitor acompanha, por vezes aflito, o triste destino das outras quatro filhas do casal Geraldo e Josefa. Uma delas acaba morrendo devido à falta de condições que a família possuía em cuidar das suas enfermidades. As outras três, em busca de um amor, acabam “se perdendo”, isto é, perderam a virgindade, e com isso, a honra. Por fim não vêem outra alternativa a não ser ganhar a vida com a prostituição. 
 
         Podemos considerar a cidade de Aracaju como uma das protagonistas da obra de Amando Fontes. Por um momento, as descrições mostram uma cidade feia e cinzenta ante a imponência das chaminés das fabricas, a lama das ruas, e os trapos no qual os operários se vestem. Por outro lado vemos uma Aracaju ensolarada, com seus bondes e suas festas, feiras e procissões, hoje, em grande parte, extintas.

         Os Corumbas não é um livro que narra uma história feliz, nem muito menos de superação. É uma obra que expõe as mazelas de milhares de pessoas que, ao tentarem buscar uma vida melhor “na cidade grande”, acabaram por encontrar uma realidade tão miserável quanto à existente no interior. É uma obra que nos faz refletir o preço que muitos pagaram pelo progresso da capital sergipana, e que hoje dormem no mais profundo esquecimento.

Referências Bibliográficas:

FONTES, Amando. Os Corumbas- 22 edição. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1999. 

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD 2010.

 

Singularidades e Generalizações: História Local e o discurso modernizador das cidades de Aracaju e Sorocaba.


         A necessidade de uma História que possua as suas singularidades e que destaque as especificidades de onde está retratando, se mostra a cada dia mais presente no âmbito acadêmico, mas, por outro lado, encontra-se distante do ambiente escolar, no qual a predominância da História generalizante se mostra incessantemente presente nos livros didáticos. Esta é uma das primeiras preocupações abordadas por Arnaldo Pinto Junior em seu texto “As potencialidades da História Local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba” .

Neste texto, Junior tenta mostrar a importância da História local como uma ferramenta de auxilio no incentivo da aprendizagem da História, se utilizando das “experiências de vida” dos alunos, além de impulsionar os mesmos a realizar atividades de pesquisa, fazendo com que no final do processo, os próprios aprendizes possam discutir a veracidade dos discursos presentes em volta da historiografia da cidade.

No caso de Sorocaba, o discurso predominante, e ao mesmo tempo comum em vários locais do Brasil, é o discurso celebrativo, que enaltece o processo de modernização da cidade, realizado pelos “grandes homens”, com a instalação de fábricas têxteis no final do século XIX, transformando o município na “Manchester Paulista”. Por outro lado, a História anterior a este processo é deixada de lado, quase que esquecida, já que é denominada como “vergonhosa” e “decadente”, na qual a cidade tinha como principal foco de comércio a feira de animais para transporte, indo de encontro aos conceitos de “progresso” e “modernidade”.

Através desta perspectiva, do “lembrar e esquecer”, é inevitável não realizarmos um paralelo com a nossa própria História sergipana. Aqui, o discurso predominante esta pautado na exaltação dos grandes intelectuais, uma elite, que é retratada como a que alavancou o processo de modernização, que tem como principal símbolo a cidade de Aracaju. Cidade situada no Vale do Cotinguiba, Aracaju foi fundada justamente para servir de marco da “chegada” da modernidade a Sergipe, através de suas ruas planejadas e sua localização plana. Semelhante a cidade de Sorocaba, teve as suas primeiras fábricas, de produção têxtil, construídas entre o final do século XIX e início do século XX.

       Por outro lado, é perceptível que o passado colonial sergipano é desprezado e depositado em um local de esquecimento. A dominação baiana neste período sobre o território de Sergipe é um dos motivos para alguns considerarem este momento histórico como vergonhoso e que deve ser mantido fora de foco para estudos. O desejo de distanciamento do que levasse a se assemelhar com o período colonial foi um dos motivos para a mudança da Capital sergipana, de São Cristóvão, com suas ruas estreitas e tortuosas, situada em morros, distante do mar, características predominantes de uma cidade colonial; para a litorânea Aracaju.

    Trazendo a experiência de Arnaldo Pinto para a nossa realidade, é necessário que aja um resgate destes momentos importantes da História de Sergipe, porém abafados pelo desejo de enaltecer uma modernidade que na realidade, não foi construída pelos grandes homens, mas sim por aqueles que trabalharam na construção da cidade e no desenvolvimento da mesma. Um exemplo pode ser encontrado no livro “Os Corumbas”, de Amando Fontes, que retrata muito bem a rotina diária dos trabalhadores das fábricas têxteis de Aracaju nas primeiras décadas do século XX, sustentando, de certa forma, o processo de modernização da cidade.

Assim como foi aplicado por Junior, a presença da pesquisa é um fator importante na aprendizagem, auxiliando na aproximação dos alunos com os conteúdos abordados em sala de aula. Por fim, é importante reforçar nos estudantes o senso crítico, fazendo com que o aluno questione e intervenha nos discursos constituídos, comparando-os com a sua realidade e tendo a capacidade de no final do processo de aprendizagem, retirar as suas próprias conclusões. 


Referências Bibliográficas:

JUNIOR, Arnaldo Pinto. As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba. In: História: Área do conhecimento. Ano 1, nº 3, 2001, pp. 37 -40.

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD 2010.

FONTES, Amando. Os Corumbas- 22 edição. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1999.

Relatório de elaboração do Vídeo para a Disciplina Temas de História de Sergipe II




Objetivo do vídeo:
Demonstrar quais foram os principais motivos que desencadearam a transferência da capital, tendo como foco principal o crescimento da economia em Sergipe através da produção açucareira, e os transtornos que uma capital distante do litoral e sem um porto que abarcasse a produção proporcionavam.
Com a realização da transferência da capital da cidade de São Cristóvão para o território que seria denominado de Aracaju, através da Resolução 413, não só contribuiu para que a produção açucareira fosse melhor transportada, através do Rio Sergipe, que possuía águas mais profundas e propicias para a instalação de um porto de maior capacidade, como agradava a elite que desejava uma cidade com padrões arquitetônicos considerados modernos, isto é, uma cidade de território plano e ruas planejadas.

Visitas realizadas:

Cidade de São Cristóvão (17/05/2012)
9h: Chegamos a cidade de São Cristóvão
9:15h: Realizamos uma visita a Igreja São Francisco e ao Museu de Arte Sacra, localizados na praça São Francisco, eleita Patrimônio da Humanidade.
11h: Fizemos uma breve visita a casa do IPHAN.
11:30h: Visitamos a Casa do Folclore.
12h: Fomos ao terminal do Catamarã, e o estuário do Rio Vaza Barris.
12:30h: Retornamos a Aracaju.

Visita ao Centro de Aracaju:
10h: Visitamos o Museu Palácio.
11h: Fomos a Ponte do Imperador e o estuário do Rio Sergipe
11:30h: Retornamos para São Cristóvão (UFS)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Convite:Lançamento do Livro "A Kombi de Prosa e Poesia"


Convite

             Dia 13 de outubro os poetas Valdeck Almeida de Jesus e Carlos Conrado lançarão o livro "A Kombi de Prosa e Poesia" na Casa Rua da Cultura (Praça Camerindo n°210, Centro, Aracaju/SE), a partir das 19 h.
            Vai ser uma noite super bacana, com performance da Cia de Teatro Stultifera Navis, musical com Beto Vidall e homenagem póstuma ao amigo Luiz Lyrio, além do coffee break.
             Apareçam! Vai ser muito legal!

sábado, 2 de outubro de 2010

Locutor Ewerton Matos declama "Fragmentos do que sou" escrito por Carlos Conrado

Não é querendo me achar não, mas o poema que vocês irão escutar agora foi feito por meu mowzi(poeta Carlos Conrado)para mim! Ficou muito lindo! Foi declamado pelo locutor baiano Ewerton Matos. Apreciem o resultado. O titulo do texto é "Fragmetos do que sou".


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um mês sem o amigo Luiz Lyrio

Um mês sem o amigo Luiz Lyrio

        O tempo hoje se tornou tão banal quanto o mundo em que vivemos.Nos encontramos tão ocupados, tão agendados, tão robotizados, que não nos damos conta que o maldito tempo é um sopro. Mas, como até as maquinas necessitam de repouso, nós, humanos, uma hora ou outra diminuímos o ritmo e, no aconchego de nossos lares recarregamos nossas baterias. Foi em um desses momentos(inicio de um feriadão tipicamente brasileiro), que me dei conta de que já irá fazer 1 mês que o amigo Luiz partiu.
      Sempre achei Luiz uma figura muito engraçada e ao mesmo tempo diferente de qualquer outra pessoa que já conheci. Meio calado, meio falante, mas sempre mineiro, tendo o típico “uai” na ponta da língua entre uma frase e outra. Só o vi perder a calma uma vez, na épica viagem a Salvador, aonde o transito da capital baiana quase enlouqueceu o motorista Lyrio  e os seus passageiros(Sendo estes eu, Carlos Conrado, Felippe Bernardo e participação especial de Dona Aurinha, avó de Conrado).
      Admito que, apesar  da proximidade, demorei um pouco a me aventurar nas obras do mineiro.Felizmente, após o próprio Luiz ter presenteado a mim e a Conrado com o exemplar de ‘Entre a Morte e a Vida”, seu mais recente livro de contos que havia acabado de sair da gráfica, não resisti ao convite e viajei em seus contos. Foi uma surpresa muito grande descobrir que o manso Luiz Lyrio escrevia de uma forma tão destemida, com estórias inquietantes e hilárias, com uma imaginação impar.
       Pra falar a verdade, minha massa cinzenta ainda não conseguiu capitar direito a partida de Luiz, que foi tão rápida e inesperada como os finais de seus contos. Existiam tantos projetos, tantos planos... E essa era uma das coisas que eu sempre admirei em Luiz Lyrio. Ele nunca se contentou com a triste realidade do escritor emergente brasileiro, que infelizmente possui um espaço muito escasso para produzir, divulgar e comercializar o seu trabalho. Mas sempre persistente, Luiz lutou para conseguir o reconhecimento de suas obras, até o ultimo instante, quando dias antes de sua ida fez a ultima revisão de “A Guerra do Fim do Mundo”, sua ultima obra que em breve será lançada.
     Não sei como terminar este texto...lidar com a amiga morte é muito estranho( e difícil)... O consolo é saber que a cada pagina de”NOS IDOS DE 68” (2004), “MARCAS DE BATOM” (2OO4)  “ABDUÇÃO” (200)7, “ENTRE A MORTE E A VIDA”(2009) e em breve o “A GUERRA DO FIM DO MUNDO”, além de muitos outros trabalhos, existirá um pedacinho de Luiz... Caberá a nós, apaixonados pela arte literária não deixar que a obra deste grande homem morra também.