quinta-feira, 31 de maio de 2012

Singularidades e Generalizações: História Local e o discurso modernizador das cidades de Aracaju e Sorocaba.


         A necessidade de uma História que possua as suas singularidades e que destaque as especificidades de onde está retratando, se mostra a cada dia mais presente no âmbito acadêmico, mas, por outro lado, encontra-se distante do ambiente escolar, no qual a predominância da História generalizante se mostra incessantemente presente nos livros didáticos. Esta é uma das primeiras preocupações abordadas por Arnaldo Pinto Junior em seu texto “As potencialidades da História Local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba” .

Neste texto, Junior tenta mostrar a importância da História local como uma ferramenta de auxilio no incentivo da aprendizagem da História, se utilizando das “experiências de vida” dos alunos, além de impulsionar os mesmos a realizar atividades de pesquisa, fazendo com que no final do processo, os próprios aprendizes possam discutir a veracidade dos discursos presentes em volta da historiografia da cidade.

No caso de Sorocaba, o discurso predominante, e ao mesmo tempo comum em vários locais do Brasil, é o discurso celebrativo, que enaltece o processo de modernização da cidade, realizado pelos “grandes homens”, com a instalação de fábricas têxteis no final do século XIX, transformando o município na “Manchester Paulista”. Por outro lado, a História anterior a este processo é deixada de lado, quase que esquecida, já que é denominada como “vergonhosa” e “decadente”, na qual a cidade tinha como principal foco de comércio a feira de animais para transporte, indo de encontro aos conceitos de “progresso” e “modernidade”.

Através desta perspectiva, do “lembrar e esquecer”, é inevitável não realizarmos um paralelo com a nossa própria História sergipana. Aqui, o discurso predominante esta pautado na exaltação dos grandes intelectuais, uma elite, que é retratada como a que alavancou o processo de modernização, que tem como principal símbolo a cidade de Aracaju. Cidade situada no Vale do Cotinguiba, Aracaju foi fundada justamente para servir de marco da “chegada” da modernidade a Sergipe, através de suas ruas planejadas e sua localização plana. Semelhante a cidade de Sorocaba, teve as suas primeiras fábricas, de produção têxtil, construídas entre o final do século XIX e início do século XX.

       Por outro lado, é perceptível que o passado colonial sergipano é desprezado e depositado em um local de esquecimento. A dominação baiana neste período sobre o território de Sergipe é um dos motivos para alguns considerarem este momento histórico como vergonhoso e que deve ser mantido fora de foco para estudos. O desejo de distanciamento do que levasse a se assemelhar com o período colonial foi um dos motivos para a mudança da Capital sergipana, de São Cristóvão, com suas ruas estreitas e tortuosas, situada em morros, distante do mar, características predominantes de uma cidade colonial; para a litorânea Aracaju.

    Trazendo a experiência de Arnaldo Pinto para a nossa realidade, é necessário que aja um resgate destes momentos importantes da História de Sergipe, porém abafados pelo desejo de enaltecer uma modernidade que na realidade, não foi construída pelos grandes homens, mas sim por aqueles que trabalharam na construção da cidade e no desenvolvimento da mesma. Um exemplo pode ser encontrado no livro “Os Corumbas”, de Amando Fontes, que retrata muito bem a rotina diária dos trabalhadores das fábricas têxteis de Aracaju nas primeiras décadas do século XX, sustentando, de certa forma, o processo de modernização da cidade.

Assim como foi aplicado por Junior, a presença da pesquisa é um fator importante na aprendizagem, auxiliando na aproximação dos alunos com os conteúdos abordados em sala de aula. Por fim, é importante reforçar nos estudantes o senso crítico, fazendo com que o aluno questione e intervenha nos discursos constituídos, comparando-os com a sua realidade e tendo a capacidade de no final do processo de aprendizagem, retirar as suas próprias conclusões. 


Referências Bibliográficas:

JUNIOR, Arnaldo Pinto. As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba. In: História: Área do conhecimento. Ano 1, nº 3, 2001, pp. 37 -40.

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD 2010.

FONTES, Amando. Os Corumbas- 22 edição. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1999.

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